30 de setembro — São Jerônimo, Presbítero e Doutor da Igreja30 de setembro — São Jerônimo, Presbítero e Doutor da Igreja

Extraído de uma edição de 1935 do livro “Na Luz Perpétua — Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus, para todos os dias do ano, apresentadas ao povo cristão” 1

São Jerônimo, célebre na Igreja pela virtude, rigor e ciência, nasceu no ano de 331 em Estridão, perto de Aquileia e recebeu uma sólida educação, segundo os princípios da religião de Cristo. O pai Eusébio era rico e piedoso. Jerônimo desde pequeno revelou um talento privilegiado e muita propensão para a vida ascética. Moço ainda, foi para Roma, com o intuito de continuar os estudos e rápidos progressos fez, sob a direção do mestre Donato, que era pagão.

Costumava visitar todos os domingos os túmulos dos Santos e Mártires.

A ciência pode mui facilmente ser um perigo para a humanidade. Esta verdade experimentou-a Jerônimo, o qual, vendo-se tão avantajado entre os condiscípulos, se encheu de orgulho e vaidade.

Por uma graça especial divina não enveredou pelo caminho do pecado. A conversão de Jerônimo começou com a compreensão das coisas divinas e com o santo Batismo, para o qual se preparou com todo esmero. Fez o firme propósito de fugir de tudo que pudesse roubar-lhe a graça batismal.

No desejo de ampliar e aprofundar o saber, visitou todas as escolas maiores de França e chegou a Tréveris, onde existia uma das escolas mais célebres, fundação do Imperador Graciano. Foi aí que Jerônimo abandonou as ciências profanas, dedicando-se mais à vida religiosa; nesta ocasião, fez o voto de castidade perpétua. Em 370, entrou para um convento em Aquileia, onde escreveu algumas obras. Em Roma, conheceu o célebre Evágrio.

Para satisfazer um desejo íntimo de viver na solidão, resolveu fazer uma viagem ao Oriente, onde, em companhia de Evágrio e de mais alguns amigos, visitou diversos eremitas.

De Antioquia, dirigiu-se ao deserto de Chaltis. Num tratado que escreveu sobre a virgindade, fala das horríveis tentações que o incomodavam, provocadas todas pela lembrança de festas e divertimentos a que assistira em Roma. Para debelá-las, praticou severas penitências e começou o estudo da língua hebraica, que lhe oferecia grandes dificuldades. Além do hebraico, cultivava o grego e o chaldaico.

Muitos aborrecimentos teve por causa de alguns hereges e apóstatas que o perseguiam, a ponto de Jerônimo ver-se obrigado a deixar a solidão e voltar para a Antioquia, onde, das mãos do Patriarca Paulino, recebeu a ordenação sacerdotal.

De Antioquia fez uma romaria aos Santos Lugares e escolheu Belém para residência. Durante o tempo que lá morou, se dedicou ao estudo bíblico.

No ano de 381, a convite do Patriarca Paulino, fez com este uma viagem a Roma, onde ficou até a morte do Papa Dâmaso, que o escolhera para secretário particular.

O modo enérgico com que verberava a vida dissoluta de muitos cidadãos romanos, criou-lhe inimigos, principalmente entre o clero. Voltou outra vez para Belém, onde continuou os trabalhos científicos. Em diversas ocasiões, teve de terçar armas contra os Pelagianos, Luciferianos, Originistas e outros hereges.

Em 410, vieram ao Oriente diversas famílias romanas, em procura de um asilo, visto que Roma tinha sido tomada por Alarico. Jerônimo comoveu-se muito com a triste sorte dos pobres foragidos e tudo fez para suavizar-lhes os sofrimentos e melhorar-lhes a penosa situação.

Foi nesse mesmo tempo que Jerônimo fez a célebre tradução dos livros do Antigo Testamento, do grego para o latim. Aconteceu que sua residência e alguns conventos que administrava, fossem atacados e destruídos por bandos de Pelagianos. Não obstante, Jerônimo deixou-se ficar em Belém, onde continuou os estudos e trabalhos bíblicos, que lhe imortalizaram o nome na Igreja Católica. Rodeado de inimigos e por eles continuamente perseguido, gozava da estima dos bons cristãos, que nele tinham um verdadeiro pai e defensor.

Jerônimo morreu no dia 30 de setembro de 420 em idade muito avançada. As relíquias foram mais tarde trasladadas para Roma. Santo Agostinho, discípulo e amigo íntimo de São Jerônimo, compara o mestre com São Paulo igualando-lhe o zelo apostólico e amor a Jesus Cristo aos do grande Apóstolo.

REFLEXÕES

A lembrança dos divertimentos profanos de Roma perseguia São Jerônimo e causava-lhe muitas tentações. O nosso tempo é riquíssimo em divertimentos, que nem sempre, ou melhor, quase nunca correspondem às exigências da moral cristã. Só Deus e o demônio sabem a quantos pecados dão ocasião e são destes causadores. No Batismo o cristão promete a Deus renunciar a Satanás, às suas pompas e obras. Entre as pompas e obras de Satanás, figuram os divertimentos, como sejam: cinemas, teatros e bailes. Quem os procura, esquecido dessa promessa, não renuncia, mas antes deseja as obras de Satanás. Que responsabilidade dos pais que levam os filhos a tais divertimentos, expondo a grande perigo a inocência e a salvação dos mesmos. Quintiliano escreve que no tempo do Império Romano a assistência aos espetáculos públicos não era lícita a menores. Se pagãos tinham tanto cuidado com a infância e mocidade, o que pais cristãos não devem fazer para afastar das almas dos filhos o veneno da corrupção? Dia virá em que perante o tribunal de Deus os pagãos se levantarão contra os cristãos, acusando-os impiedosamente dos crimes que cometeram.

Santos do Martirológio Romano, cuja memória é celebrada hoje:

Em Roma, o martírio de São Leopardo, doméstico de Juliano Apóstata.

Em Solothurn, na Suíça, os santos mártires Victor e Urso, ambos da Legião Tebana.

Em Placência, Santo Antonino, mártir da mesma Legião.

Notas

  1. PDF desse livro disponível em: https://archive.org/details/pe-joao-baptista-lehmann-na-luz-perpetua-vol-ii 
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