28 de setembro — São Venceslau, Rei e Mártir28 de setembro — São Venceslau, Rei e Mártir

Extraído de uma edição de 1935 do livro “Na Luz Perpétua — Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus, para todos os dias do ano, apresentadas ao povo cristão” 1

São Venceslau2 (✝ 304), Rei e Már­tir, duque de Boêmia, teve por pai Vratislau, homem de grandes virtudes e por mãe Drahomira, inimiga figadal do Cristianismo e de péssimo proceder. Na hora em que sentia a morte aproximar-se, Vratislau confiou Venceslau aos cuidados de sua santa avó Ludmilla, e Boleslau, o filho mais novo, ficou entregue à mãe, Drohomira. Sendo tão desiguais as duas mulheres em caráter e costumes, natural era que também os meninos se diferenciassem consideravelmente. Venceslau era piedoso e manso; Boleslau, pelo contrário, violento e ímpio. Drahomira apoderou-se do governo e encetou cruel perseguição aos cristãos. Decretou a expulsão dos sacerdotes, depôs as autoridades cristãs, substituindo-as por outras pagãs, de que os cristãos nada podiam esperar senão chicanas e injustiças.
Um governo deste jaez não podia gozar de popularidade e portanto ser de longa duração. Os representantes das províncias fizeram pacto comum, declararam deposta a Rainha e elevaram ao trono Venceslau, a quem prestaram homenagens. Drahomira escumava de raiva e, quando viu que Venceslau, aconselhado pela avó, restauraria o Cristianismo no reino todo, jurou tirar desforra. Assalariou uns assassinos, que estrangularam Ludmilla com o próprio véu, quando estava na igreja rezando. Não satisfeita com isso, a megera ainda jurou livrar-se também de Venceslau.

O duque reinou com tanta justiça e ao mesmo tempo com tanta brandura, que em pouco tempo se tornou o ídolo do povo. Na vida particular era irrepreensível. O mundo cristão conhece poucos exemplos da virtude da caridade como São Venceslau os deu. Era amigo e protetor dos pobres, doentes e encarcerados; para as viúvas e orfãos um verdadeiro pai. Nas horas silenciosas da noite visitava os presos, consolava-os e dava-lhes esmolas. Aos doentes dava tudo que pediam. Sabe-se que ele mesmo em pessoa se encarregava de levar lenha às casas de famílias pobres. Era casto e puro e conservou a pureza do coração até à morte.

Às praticas de piedade consagrava muitas horas. Alta noite, mesmo na estação do inverno, ia descalço visitar as igrejas. Aos sacerdotes tratava com muito respeito e não tolerava que fossem desacatados por palavra ou obra. Muitas vezes faltando o acólito, ele mesmo ajudava na Missa. Grande era a devoção que tinha ao Santo Sacrifício da Missa, à qual assistia diariamente. Ele mesmo semeava o trigo, moia a farinha e fazia as hóstias. O vinho de Missa era feito sob sua vigilância e fiscalização. Numa palavra: Venceslau, como Príncipe, governava com prudência e justiça e ornou o trono pela santidade de sua vida.
O duque Radislau, não querendo concordar com o governo de Venceslau, organizou contra ele uma revolução e pôs-se à frente dum exército. Venceslau mandou-lhe embaixadores, propondo-lhe condições vantajosas, com o fim de evitar um conflito. Radislau recusou receber os embaixadores e acomou de fraqueza e covardia a oferta de Venceslau. Destarte se tornava inevitável a luta e Venceslau mobilizou as tropas. Estavam os dois exércitos frente a frente, esperando o sinal do ataque, quando Venceslau, movido de compaixão por tantos súditos, que inocentemente haviam de derramar o sangue no campo de batalha, propôz a Radislau o duelo, que este aceitou. A vitória seria daqueles cujo chefe saísse vitorioso do duelo.

À hora marcada compareceram os dois adversários, montados em soberbos ginetes, vestidos de luzentes armaduras; Radislau armado de lança e escudo, Venceslau apenas de escudo e espada. Mal o clarim tinha dado o sinal de atacar, Radislau, de lança em riste, investiu com grande ímpeto contra o adversário, procurando derrubá-lo na areia. Venceslau, antes de se arremessar contra o inimigo, fez o Sinal da Cruz e eis que se deu um fato admirável. No momento em que a lança de Radislau ia ferir Venceslau, apareceram Anjos ao lado destes dois e ouviu-se o brado imperioso: “Pare!”. Como tocado pelo raio, Radislau caiu do cavalo e, mudado interiormente, dirigiu-se a Venceslau e, prostrado diante de seu Senhor, pediu perdão, prometendo obediência e submissão. Venceslau foi a Worms, para tomar parte na Dieta convocada pelo imperador Othão I. Este o recebeu com honras extraordinárias, conferiu-lhe o título de Rei e deu-lhe de presente um braço do mártir São Vito. De volta a sua terra, Venceslau continuou no modo de vida primitivo.

Quanto mais o povo o amava, honrava e festejava, não só pela grande santidade, mas ainda pela nova dignidade de Rei que lhe tinha sido conferida, tanto mais crescia o ódio nos corações de Drahomira e Boleslau. Isto não podia passar desapercebido a Venceslau, que tomou a resolução de abdicar. Drahomira, porém, não quis esperar pelo momento da abdicação espontânea.

A esposa de Boleslau dera à luz um filho. Ao Batismo foi convidado também Venceslau. Tinha este bastantes motivos que o fizessem desconfiar da existência de planos secretos. Ainda assim e para não parecer que tinha desconfiança do irmão, aceitou o convite, mas antes de se dirigir ao castelo de Boleslau, recebeu os Santos Sacramentas da Penitência e Eucaristia. A recepção cordialíssima e o tratamento atencioso que teve, não deixaram suspeitar qualquer falsidade da parte dos parentes.

Como o banquete se prolongasse demasiadamente, Venceslau, sem que tivesse dado na vista, retirou-se da mesa e procurou a capela. Mas, à mãe, Drahomira, percebendo-lhe a retirada, chamou de lado a Boleslau e segredou-lhe ao ouvido o plano satânico, que consistia em nada menos senão fazer desaparecer o santo Rei, visto ser propícia a ocasião. Não eram precisos muitos argumentos para conseguir isso do irmão desnaturado. Acompanhado de uns bandidos dignos dele, dirigiu-se à capela, onde Venceslau se achava em oração. Sem dizer palavra, precipitou-se sobre o irmão e cravou-lhe uma espada no peito. A vingança de Deus não tardou. Drahomira teve uma morte trágica, poucos dias depois. Boleslau teve de responder ao tribunal do Imperador Othão I e aceitar a sentença da justiça.

O assassinato de Venceslau teve lugar no dia 28 de setembro de 936.

REFLEXÕES

De São Venceslau o cristão pode aprender o respeito à Santa Missa. Embora ocupadíssimo com os negócios do governo do país, São Venceslau achava sempre tempo para assistir ao Santo Sacrifício e com tanta devoção fazia as orações, que edificava a todos. Muitos cristãos também teriam facilidade de ouvir Missa em dias de semana, se quisessem fazer um pequeno sacrifício. É mais fácil sacrificarem horas e dinheiro para ir ao cinema, do que se resolverem a levantar um pouco mais cedo para poder assistir à Santa Missa. Oxalá todos se convencessem de que nada se perde com o que se dá a Deus; oxalá quisessem compreender que o tempo de meia hora que se oferece a Deus, traz grandes bênçãos para os trabalhos e sofrimentos.

Outra coisa que o exemplo de São Venceslau ensina, é o respeito aos sacerdotes. O sacerdote não é um homem qualquer. É o representante de Deus, seu mensageiro, mandado para ensinar-nos a vontade divina. O sacerdote é o administrador dos Sacramentos. Nenhum Sacramento podemos receber a não ser pelas mãos do sacerdote. Quem desrespeita o representante de uma nação, ofende tanto a este, como ao país de que é enviado. Assim o desrespeito dirigido ao sacerdote fere diretamente a Deus e provoca-lhe a vingança. Se aqueles que maldizem ao sacerdote quisessem dar-se à pena de examinar o estado da própria alma muito melhor certamente achariam ca­lar-se e não mais difamar e caluniar os ungidos do Senhor. Quem desrespeita o sacerdote, atrai sobre si a ira e a maldição de Deus.

Santos do Martirológio Romano, cuja memória é celebrada hoje:

Na Tunísia, os Santos mártires Marçal, Lourenço e mais vinte companheiros.

Em Belém, na tribo de Judá, a santa virgem Eustochium, natural de Roma, filha de Santa Paula e discípula de São Jerônimo.

Na Alemanha, a Santa virgem Lioba, abadessa e parenta de São Bonifácio.

Notas

  1. PDF desse livro disponível em: https://archive.org/details/pe-joao-baptista-lehmann-na-luz-perpetua-vol-ii 
  2. N. do E.: Ou São Wenceslau, em ortografia mais antiga 
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